quarta-feira, 28 de abril de 2010

A Via Láctea

De repente, como não acontecia há muitos anos, senti vontade de ouvir Legião Urbana. E era uma música específica: A Via Láctea.

Essa música eu costumava ouvir com uma grande amiga. Alguém que eu amei como se tivesse nascido da mesma mãe que eu. Essa música ouvíamos juntas porque ela nos ligava, considerávamos que era o momento em que sentíamos a mesma coisa. E não estou dizendo isso porque conversamos e chegamos a esta conclusão. O que digo era subentendido, era dito no olhar, era sentido.

Conheci-a quando ainda nem sabia ler e o que escrevia ainda precisava ficar na minha imaginação. Passamos por fases complicadas juntas. E eu nunca tinha confiado tanto em alguém. Não acreditaria que estava enganada se não tivesse notado pessoalmente. E nunca me doeu tanto uma separação quanto aquela. Eram anos de intimidade e de uma amizade que eu acreditava ser a mais verdadeira do mundo. E doeu ver ela passar e fingir que não me via, doeu não dar feliz aniversário (ainda mais porque é exatamente um dia depois do meu), doeu saber que o sonho acabou.

Eu acredito muito que não existe decepção maior do que ver um vínculo de amizade se quebrar. Acho que estamos preparados para suportar um fim ou uma decepção com um(a) namorado(a) ou coisa que o valha, mas jamais imaginamos ser traídos por um amigo. Não conseguimos imaginar um motivo para uma amizade acabar.
O que me deixa tranqüila é saber que esta decepção não se acumula. Eu sempre disse para ela que se um dia não fôssemos mais amigas, seria por vontade nossa. E assim foi. E apesar de ter chorado muito por isso, não deixei de conseguir ser muito amiga de outras pessoas. Ao contrário, até foram fortalecidas outras amizades.

Mas há pessoas insubstituíveis. Aliás, para mim, todas as pessoas são insubstituíveis. Hoje, ouvindo essa música depois de mais ou menos uns 6 anos, parece-me que era bem provável que ela iria definir um pouco dessa estranha despedida. Eu nunca deixei de pensar com carinho e lembrar de tantos momentos nossos. Nossa ligação não era recente e nem se terminou assim. Por muitas noites eu ainda sonhei com ela e conversávamos; e por muitas acordei preocupada com os problemas que ela me dizia estar passando.

Várias vezes eu tentei, mas só hoje, depois de tantos anos, consegui falar sobre este assunto. Que surgiu na minha memória nos primeiros acordes da música. Não sei por que quis ouvir esta música agora, mas talvez fosse mesmo pra lembrar disso. Lembrar que as despedidas são sempre difíceis, mas elas também trazem novas situações muito especiais. E lembrar também que o melhor a se guardar de alguém são as boas lembranças deixadas. Sempre que gostamos de alguém e esse amor é verdadeiro, devemos nos permitir sentir saudade, mas que isso não se transforme em sofrimento.


"Não importa o quão destrutivas foram as tempestades do inverno, tudo voltará a florescer na próxima estação."

Um comentário:

Unknown disse...

Afavel postagem minha cara Luh! este insustentavel ardor pela nostalgia, é a saudade perdida na arca do tempo, perdida no nosso jardim lá fora...
Dentro da velha arca, uma máquina..aquela do tempo, sonho irracional para qualquer um..oras, qualquer um que não flerta com os detalhes especiais de outrora!
E na nossa arca, vivem aquelas velhas amizades, que nos remetem a momentos plenos das tais coisas que não voltam mais..
A saudade dói mais que dor de dente, que queimar o dedo..dói mais que ver o palhaço cair do picadeiro e triste não saber o que dizer..e esta saudade, só temos por aquilo que consideramos indubitavelmente eterno na casa que fica dentro do coração..
Nossos amigos, já distantes, são a certeza que os caminhos são vias distintas..uma estrada com placas apontando para tantos lados e uns escolhem o inverso de outros e então, seguimos a saga de viver com nossas canções em baixo do braço, lembrando das brincadeiras, das festas, dos momentos na frente do portão de casa, enfim! de tudo aquilo que caia sobre um indefectivel tempo perdido,...
Como gostaríamos que no exato momento que estivessemos pensando naquele amor, naquele amigo, naquela pessoa distante, tal ser também estivesse pensando o mesmo, quem sabe da mesma forma..mas justamente por escolhermos as placas e os caminhos distintos, cada qual vive com a sua arca, lembrando das coisas que não serão as mesmas que preenchem a nossa arca lá no jardim..
Eu lembro que a primeira vez que escutei "Via lactea..", me encontrava enfermo..e aqui, não quero parecer piegas..mas lembro que tal frase "QUANDO TUDO ESTA PERDIDO, SEMPRE EXISTE UM CAMINHO, QUANDO TUDO ESTA PERDIDO, SEMPRE EXISTE UMA LUZ..", me fez entender que a vida poderia ser além dos olhos..
e que Deus, havia me doado um coração de amor, para querer bem todos estes amigos que passaram por mim..e tenho certeza que não fui o melhor, nem o maior..mas certamente, fui o amigo que mais se preoucupou e se preoucupa com todos aqueles que estão na minha via lactea, na minha arca e na minha saudade!
e certamente, estaremos juntos mesmo que por caminhos diferentes..
um beijo do amigo..
Tiago Horácio