segunda-feira, 7 de junho de 2010

Saudade

Se tem uma coisa que eu não consigo me privar de gostar é de sentir saudades. Tenho fascínio por este estranho sentimento. Durante algum tempo achei que era errado fazer isso, que era o péssimo hábito de viver do passado. E eu tinha razão, porque eu não sabia sentir saudade, eu apensa cultuava o passado, como o admirador de um museu olhando para uma história que não é sua como se ela fosse indispensável para sua felicidade. Me obriguei a odiar a saudade do jeito mais verdadeiro possível, para conseguir viver. E sou obrigada a confessar, senti saudades da saudade.
Mas hoje me permito saudadear novamente. E até conjugar o sentimento. Transformo minha saudade em verbo, para que seja ação e não mais (nunca mais) um simples complemento abstrato. Ela não é mais substantivo, é substância. Não é o passado, é a experiência, é a certeza de que existiu felicidade.
Minha saudade não é triste, não teria sentido se fosse. Ela é alegre e vaidosa; tem som, cheiro e cor. Ela é presente sem medo do futuro. Ela é o meu estímulo: acordo todos os dias com vontade de aumentar e alimentar a minha saudade. Não me entenderiam os que só sabem sentir falta, que é triste, angustiante e não acrescenta nada. Falta pode-se sentir de coisas, não de momentos ou pessoas.
Não acredito que exista alguém que sinta saudades do que foi ruim, não depois de reconhecer que é. Então, a minha saudade me mostra tudo de bom que eu vivo. É bom relembrar, rir várias vezes pelo mesmo motivo, contar de muitas formas a mesma história, ser feliz por inúmeros momentos com uma só causa de felicidade.  Saudadear a vida inteira, os anos que passaram e os que estão por vir. Saudade do agora para fazer ser especial.

Saudade é a prova incontestável da felicidade.


Nenhum comentário: