sábado, 2 de agosto de 2008

Do abandono ao reencontro

Começo esta análise com uma das chatas mensagens que as operadoras de celular mandam via sms para seus uuários(no caso, eu), de autoria desconhecida ou esquecida: "Se você criou uma relação com alguém, houve um encontro de idéias e afetos. Acha que perdeu algo pelo caminho? Recupere o essencial."

Há algum tempo que venho pensando nas relações e no essencial. E venho reforçar a mensagem de Saint-Exupéry, 'o essencial é invisível aos olhos'.

Certas vezes, temos a necessidade de abandonar (coisas, hábitos, pessoas, idéias, sentimentos...), um abandono que pode ser libertação, evolução ou pura falta de foco. Nem sempre conseguimos nos guiar da melhor forma e pelo melhor caminho. E como saberemos qual é? A única forma de descobrir é errar o suficiente para acertar. Mas as relações, claro! Acredito que é nosso maior meio de abandono, as relações que criamos com as pessoas. Os seres do nosso convívio são a maior fonte de aprendizado que temos, é só ter calma e sensibilidade para observar. Não quero que ninguém caia no erro de julgar aqui relações homem-mulher(ou o que cada um preferir!); m refiro a relações humanas, com mãe, tio, vizinho, colega, amigo, desconhecido, enfim, todas as pessoas que de alguma forma passam pelo nosso convívio deixando um pouco de si e(se não formos muito mesquinhos) levando um pouco de nós.
Por ocasião de uma mensagem não ouvida, uma vez tomei um rumo que poderia ter sido evitado. Mas pessoas maravilhosas surgiram para compensar algumas perdas. Alguns, inclusive para mostrar o qe estava acontecendo, mesmo que nem sempre eu quizesse ver... Mas foi uma fase triste, por poucas pessoas e por poucos acontecimentos. Porém, foi de uma tristeza tão forte, que eu quis com toda minha vontade abandonar. E abandonei! Junto deixei para traz as boas pessoas e os bons momentos, pois era preciso me desligar de tudo para me reencontrar. Confesso: quando estamos no processo de recuperação de algo/alguém que os fez mal(ou que deixamos que nos fizesse), não existe saudade. Saudade se tem do que ainda se quer. Quando se abandona, podemos sentir qualquer coisa, menos saudade. Repudiei durante algum tempo tudo que fazia e gostava de fazer. Às vezes, sentia falta, ao mesmo tempo que sentia nojo. Abandonei a minha vida para esquecer. Depois de não conseguir, de não desistir, de chorar, de desesperar, de acordar, de sobreviver, finalmente enxerguei o essencial. E agora que o abandono já se tinha dado por completo, chegava a hora do reencontro.


Do Reencontro...
Eu trataria como delicado. Para quem abandona e fica frágil, é sempre amedrontador o encontro com o desconhecido eu. Mas é necessário. Então tentei, e era tudo tão difícil. A cada passo-palavra-sentimento-suspiro, parecia que tudo ia acontecer ao mesmo tempo e sem controle. E algumas aconteceram, mas foi bom. E fui encontrando eu em mim, que não conhecia mais. Descobrindo aos poucos o que me fazia feliz, o que eu queria pra mim e, principalmente, o que não queria. Só depois de um bom tempo, tive coragem para começar a reencontrar os outros. E me deparei então com o tempo. Pois as criaturas abandonadas, tendem também a abandonar.
Eram amigos, sim, que muitas vezes apareciam na hora exata para dizer a coisa certa, mas precisaram ser deixados para traz com tudo que não era bom. Agora, na hora do reencontro com aqueles que são merecedores de saudade, faltaram palavras. Os olhos, que quando silenciados não mentem, permitiram-se contemplar com a presença dos queridos, dos que me são caros, dos que não mereciam ter participado da mesma história triste dos que não sabem sentir. Mas estes, de tão especiais, sabem recuperar e reencontrar.



O que é essencial? Reencontrar é recuperar o que foi bom.





*Citação de Saint-Exupéry, em 'O Pequeno Príncipe', porque algo de bom sempre fica.