terça-feira, 27 de março de 2012

Ele era um lobisomem juvenil

"Nada e Tudo

Às vezes tudo é complicado,
talvez porque este nosso tudo
não seja nada perante o mundo"


Assim começava meu primeiro texto a ser publicado, na verdade, um poeminha da 7ª série que saiu no jornal do colégio. Na época, eu ainda pensava em medicina, mas a sensação trazida pelas minhas palavras impressas para "todo mundo" ler, marcaram o início da mudança da atual (futura) jornalista. Tanto que ainda lembro, de tanto olhar para o tal jornal!

Achei importante falar isso, para deixar mais explícita um pouquinho da importância deste cara na minha vida. Esse cara que hoje faria 52 anos, mas em 11 de outubro de 1996 deixou muitos fãs em prantos.
Eu posso consider-me um fã póstuma de Legião Urbana, mas lembro da notícia de 96 como se fosse hoje. Estava na casa da minha madrinha, cujo filho mais velho sabia acho que todas as músicas até de trás para frente. Lembro dele chorando como eu nunca tinha visto alguém chorar. Foi este meu primo que me apresentou Legião quando eu ainda era criança. Ele já tocava violão na época e quando eu estava lá ia para o quarto dele e ele tocava as músicas pra mim. De todas a que mais lembro é Faroeste Caboclo, achava incrível porque contava uma história, mesmo sem entender muito bem o que queria dizer.

Já um pouco mais velha, lá pelos 12 (só dois anos, mas muita diferença nessa idade), meu pai trocou de carro e junto veio perdida uma fita k-7. Comecei a ouvir no meu walkman (quem ainda lembra o que é isso?) e fiquei impressionada com as letras. Tinha músicas como Tempo Perdido, Andrea Doria, Geração Coca-cola. Esta última prendeu minha atenção de forma especial. Até que fui mostrar para a prima que gostava "dessas músicas", a Larissa, para ver se ela conhecia. Ela me disse: "isso é Legião Urbana, tu gostou?" "Eu adorei" Lembro até agora o brilho de satisfação nos olhos dela! Numa breve sequência de meses, estava ela me apresentando, mais músicas, mais discos (e cd's, pois ela já tinha um rádio moderníssimo que tocava discos, fitas e cd's!) algumas rádios e um programa em especial, um tal Pijama Show.

Eu virei fã de Legião. Nunca lamentei ser impossível estar em um show ou algo do tipo, na verdade, até me sentia um aliviada por saber que não iria sofrer tanto quanto meu primo com a despedida do ídolo. Conheci todas as músicas, decorava as falas entre as faixas das versões ao vivo, enfim, essas coisas que fãs fazem. Fase de adolescência meio deprê, como era normal para a maioria dos adolescentes, talvez ainda seja. E continua o que escrevi na 7ª série:



"Os rios correm em busca do mar
e suas águas se misturam.
A humanidade vive sua estupidez
e ninguém sabe que eu existo.
A gente ignora as pequenas coisas,
sem ver que somos até menores que elas.
NADA"


 Eu ouvia as músicas o tempo todo e assim seguiu durante uns três anos. Um dia diminuí e substituí, naturalmente, como deve ser. Mas absolutamente todo meu gosto musical devo ao Renato, pois até o que é bem diferente, conheci pelo que a Legião me trouxe, por saber que ouvir o desconhecido pode trazer surpresas, por ouvir uma rádio esperando uma música dele e conhecer outras novas. Raramente ouço Legião hoje, não porque não gosto, mas porque ela não é mais para esta fase. Há pouco ouvi, no Pijama Show, que agora é de manhã. Ouvi o Éverton Cunha falando no Renato e foi inevitável não lembrar de tudo isso. Se estou ouvindo ele falar, é justamente por causa dessa banda.

Não acho que o Renato sirva como exemplo para ninguém, mas discordo de quem o trata como vilão. Eu fui fã dele e nem por isso segui o que ele fazia. Há uma grande diferença. As músicas marcaram a minha vida e muitas delas ainda têm coisas novas a me dizer. Não concordo com a postura autodestrutiva dele, mas reconheço em muito das suas músicas mensagens bonitas e positivas, que comprovam a existência de algo bom a passar para as pessoas. Legião não era uma banda musicalmente boa, o sucesso precisava ter coisas boas para oferecer.

Parece estranho falar sobre mensagens boas tendo como inspiração meus escrito da escola que transcrevi aqui. Por isso, acho importante explicar o início e mostrar o fim dele. Na verdade, minha professora levou a música pais e filhos para a aula e pediu para que escolhêssemos um trecho para escrever sobre ele. A maioria escolheu o belíssimo refrão "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã". Eu lembrei de uma conversa que aconteceu um tempo antes e aproveitei para registrar a ideia.

A conversa foi entre eu e a Larissa, estávamos em Rosário do Sul, ela me olhou e cantou: "Sou uma gota d'água, sou um grão de areia". Ao que completou: "Uma gota d'água, um grão de areia, pensando assim, a gente não é nada" E eu disse: "Mas se não fosse cada gota d'água, nunca se formaria o oceano".
Com essa ideia e baseada neste trecho da música, encerrei o pequeno poema:



"Mas pense um pouco,
suas ideias e planos são muito importantes.
Se não fosse cada gota d'água nunca se formaria 
esse imenso oceano.
TUDO"


Obrigada ao Renato Russo por tudo que passava em suas músicas. Para mim, só as coisas boas ficaram, essa foi a minha escolha.

 
"Já não me preocupo se eu não sei por que.
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê
E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você."