segunda-feira, 28 de junho de 2010

Madrugada

Perco as horas de sono por aqui,
procurando sentimentos antigos
em poemas perdidos
nas páginas viradas
das agendas guardadas.

terça-feira, 22 de junho de 2010

O Lado Bom

Agora que não preciso mais perder meu tempo
vivendo a tua vida,
ouvindo os teus discos
e lendo teus livros,
posso perder o tempo que eu quiser comigo.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Liberdade Literária

Eu acreditei, durante muito tempo, que escrever devia ser verdadeiro. Aliás, acreditava que o que era escrito deveria ser verdade. Acho que eu realmente pensava é que toda a arte deve ter um fundo de verdade, deve narrar um fato ou uma história. Eu era estúpida pensando isso...

Por muitos anos perdi lindos textos. Abortava as futuras palavras porque elas não contavam, mesmo que de forma subliminar, alguma verdade. Eu queria fazer poesia como quem escreve um dicionário. Nunca poderia dar certo.

Agora vejo que eu estava apaixonada por escrever e namorei as palavras durante muito tempo. Idealizava que faria o melhor fazendo algo completamente sem sentido, procurando realidade para o que deveria ser completamente descompromissado. Meu romantismo era paranóico: eu não aceitava a ideia de ser possível escrever com emoção usando um teclado ao invés de papel e caneta. E precisava ser a mesma caneta. Tinha um caderno para cada tipo de intenção literária. Eu achava que precisava de uma inspiração quase sobrenatural para escrever qualquer coisa. E recusava-me a mudar uma vírgula da versão original. Levava tudo a sério demais, o que deveria ser terapia virava frustração.

Só hoje percebi, que depois de ter me desiludido deste relacionamento conturbado e de ter ficado um certo período separada das letras, consegui uma feliz reconciliação. Agora somos casadas, eu e estas que vocês podem ler.

Tenho que contar a todos que nossa união é linda, apesar de ter algumas peculiaridades. Por exemplo, casamos várias vezes por dia, nem todos os dias. E são diversos os que posso considerar como nossos padrinhos: Veríssimo (o pai mais que o filho), a professora de português da 7ª série, Paulo James, Lya Luft, Saint-Exupéry, alguns poemas de ônibus, Carpinejar, e a lista segue por muitas linhas... E não posso negar que são também padrinhos aqueles que me provocam qualquer espécie de sentimento, seja de deixar a perna bamba, seja de deixar cega de raiva.

O casamento me deixou mais calma e segura. Agora sei que o amor é mútuo, não tenho medo de mostrá-lo aos demais. Quem ama é calmo no sentimento, não precisa provar, não precisa ter motivos, precisa apenas sentir e cultivar. É o que faço aqui. Nenhum documento ou jóia me prende ao que escrevo. Mas é escrever que me prende à vida. É o amor que ninguém me tira, é o eterno enquanto dure, que dura o quanto eu necessitar.

Com a tranquilidade de quem conhece o seu par, agora falamos sobre todos os tipos de assuntos com intimidade. Contamos histórias, estórias: minhas, alheias ou de ninguém. Tudo é permitido. Sinto-me feliz por isso, tanto que já consigo dividir com o mundo o que escrevo, já que agora não tenho o compromisso de assumir cada palavra como algo que fiz ou que pensei. Pode ser apenas um sentimento sutil, que nem sei de onde vem.

Casei-me para me mostrar sem medo, para não ter obrigação de provar que amo; conquistei confiança e cumplicidade e já não me interessa o que podem pensar disso.



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Tenho defeitos: sou ciumenta. Não gosto que se apropriem dos frutos desse amor (sem avisar e citar a fonte!) As pessoas fazem isso comigo desde a escola. Eu fico imaginando essas criaturas insensíveis invadindo um consultório médico e dizendo: "Ô, doutor, eu tenho um conhecido com dor de garganta e outro com dor na coluna, o senhor me consegue as duas receitas mas não assina, eu quero assinar pra pensarem que eu sou o médico" Ah, pelo menos pediriam... Cada vez que via usarem as minhas palavras (e já aconteceu de me mandarem uma mensagem que eu tinha feito!), sentia uma grande vontade de responder: "Adorei o texto, mas se você não tem competência para fazê-lo, tenha dignidade para respeitar quem fez. Preserve os (meus) direitos. Assinado, a autora"
É uma estranha sensação entre a satisfação de ser admirado e a revolta de não ser reconhecido. Talvez o nome disso seja apenas vaidade. Talvez seja direitos autorais. Ainda não sei, mas aprenderei a lidar, com o tempo e a experiência que essa união me traz.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Presente


 
Eu não espiei em baixo daquele vestido sem saber o que estava fazendo. Eu não disse que era uma menina por palpite. O que acontecia, é que eu estava ansiosa por aquela chegada. Eu não lembro como as outras lembranças, eu lembro dos detalhes desse nascimento com uma felicidade difícil de explicar para os meus 4/5 anos. Eu sabia extamente quem estava vindo. Eu pensei no dia 11 de junho de 1991 pela primeira vez: esse é o meu melhor presente de aniversário. E tem sido por 19 anos até então.
 
 
Não há como não estremecer, chorar e amar falando disso. Ela veio com o nome que eu queria ter e que eu tinha dado para a minha boneca preferida. Até que ela veio ser a minha preferida. Deve ter sido uma criança mimada e enjoada. Deve ter sido uma adolescente brigona e revoltada. Eu não vi nada disso. Sempre estive com os olhos embargados pelo amor que sentia. Eu carregava no colo uma criança frágil e dava colo para uma mulher sensível. Eu queria poder ser pra ela tudo o que um dia quem me antecedeu foi pra mim. Eu não sei até que ponto consegui ser útil na história dela, não sei se muitas vezes não pequei pelo próprio sentimento.
 
 
 Muitas vezes me culpei, por achar que esse meu jeito muito cego de gostar me deixou negligente em certos momentos importantes, em que eu deveria ter sido mais exigente talvez. Eu tive uma irmã mais velha, mas acho que falhei um pouco em cumprir este papel. Eu preferi a melhor amiga. Eu achei que poderia ser mais forte, achei que poderia ensinar muitas coisas boas, mas me choquei com alguém muito diferente de mim no jeito de ser e muito igual no modo de sentir. Eu não estava preparada para ser responsável por alguém que eu amo tanto. Eu queria ser especial, mas me emocionei quando vi ela me citar as coisas que eu escrevia; eu queria ser modelo, mas não resisti quando ela cumpriu (mesmo que inconscientemente) a promessa de usar um vestido igual ao meu na festa de 15 anos. Eu nunca estive preparada. Eu ainda não estou, se estivesse, não teria tantas lágrimas insistindo em me atrapalhar a visão agora.
 
 
  Nós compartilhamos a mesma família, várias histórias, alguns amigos, uma certa quantia de planejamentos fracassados de festas e quase todos os bolos de aniversário. Eu não sei quantas vezes eu já me senti mãe-amiga-irmã-cúmplice dela, entre tantas outras sensações. Eu não quero e nem espero nada, absolutamente nada em troca do que eu sinto. A simples existência já me basta, há exatos 19 anos.
 
 
 
Eu acredito que só ofertamos o que fazemos para quem amamos. E isso é o que eu faço de melhor: escrever. Deinha, espero que aceites estas palavras como uma tentativa de expressar o que sinto por ti. Só tentativa, porque reduzir a palavras seria de fato impossível. Uma vez eu estava na praia e a Larissa saiu quando eu ainda estava dormindo. Ela veio me dar um beijo bem devagar pra eu não acordar. Mas eu vi, só que fingi continuar dormindo. Porque sei que não era pra me agradar ou me mostrar nada, era pelo simples fato de me amar. Nesse dia eu percebi como conseguimos sentir quando alguém gosta de nós. E fiquei mais tranquila com relação a ti, imaginando que também devias perceber o que eu sinto. Afinal, nós duas somos meio difíceis para demonstrações de afeto, acho que por sermos sensíveis demais. Mas este relato aqui, não é só para dizer que eu te amo, é para dizer ao mundo que eu te amo! E que tu é, e sempre vai ser, meu melhor presente de aniversário! Minha gêmea! TE AMO!!!
 
 

quinta-feira, 10 de junho de 2010

9 de junho

Amanhã é meu aniversário. 24 anos. Às vezes tenho mais, às vezes menos. Nunca acho que tenho exatamente a minha idade. Não sei bem do que sinto falta e nem o que eu queria estar fazendo nesse exato momento. Poderia dizer que tanta indecisão pessoal é culpa de ter nascido em junho, mas preciso confessar que na verdade eu não acredito em horóscopo.

Acho que eu sofro de DPA - Depressão Pré Aniversário. E acho que é um trauma de infância (que é de onde devem vir todos os traumas!) Lembro que eu realmente não sabia o que estava acontecendo na minha festa de 1º aninho, não sei se por falta de explicação ou de entendimento da minha parte. Foi exaustiva, eu cansei muito. Tanto que no 2º ano eu estava muito mal humorada no dia da festa. Fiquei segurando uma boneca o tempo todo, como ponto de fuga. Busquei no pequeno brinquedo uma companhia pra me salvar do constrangimento da ocasião. Talvez isso explique a minha aversão ao 'Parabéns'.

A primeira festa em que me diverti foi a dos meus 3 anos. Essa eu realmente gostei. Acho que foi das melhores que tive. Aos 4 outra experiência traumática: fiz xixi na calça. Aos 5: monotonia. Aos 6: flagra em baixo da mesa comendo negrinho. Nem eu sei porque fiz isso, mas neguei tanto que era eu na foto que até cheguei a duvidar. A festa dos 7 foi tão divertida quanto a dos 3. E a partir daí, quase todos os meus bolos foram divididos com a Deia, o que me dava certo alívio.

Eu acho que esse chega a ser um problema: minha memória é boa e minuciosa demais. Eu me sinto um pouco anormal por me lembrar do meu 1º e 2º aniversários. Há quem diga que lembrar do 3º já é estranho...
Lembrança demais nem sempre é tão bom assim. E nessa parte do ano em que tenho que trocar o número pra responder a idade, lembrança demais vira nostalgia.

Não é saudade, não é tristeza, não é alegria. É uma sensação de estar perdida no meu tempo sem saber se ele é meu. É parecido com ler todas as agendas e ver todas as fotos que temos. É saudade-medo-vontade, assim, como se formassem uma única coisa.

Sorte que amanhã já é quinta-feira e as quintas-feiras passam rápido. Porque vou confessar: no dia 10 de junho, minha maior agonia é o medo de não receber todos os 'Parabéns' que estou esperando; e a maior euforia é a alegria de receber os inesperados!


Feliz Aniversário pra mim!!!


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Saudade

Se tem uma coisa que eu não consigo me privar de gostar é de sentir saudades. Tenho fascínio por este estranho sentimento. Durante algum tempo achei que era errado fazer isso, que era o péssimo hábito de viver do passado. E eu tinha razão, porque eu não sabia sentir saudade, eu apensa cultuava o passado, como o admirador de um museu olhando para uma história que não é sua como se ela fosse indispensável para sua felicidade. Me obriguei a odiar a saudade do jeito mais verdadeiro possível, para conseguir viver. E sou obrigada a confessar, senti saudades da saudade.
Mas hoje me permito saudadear novamente. E até conjugar o sentimento. Transformo minha saudade em verbo, para que seja ação e não mais (nunca mais) um simples complemento abstrato. Ela não é mais substantivo, é substância. Não é o passado, é a experiência, é a certeza de que existiu felicidade.
Minha saudade não é triste, não teria sentido se fosse. Ela é alegre e vaidosa; tem som, cheiro e cor. Ela é presente sem medo do futuro. Ela é o meu estímulo: acordo todos os dias com vontade de aumentar e alimentar a minha saudade. Não me entenderiam os que só sabem sentir falta, que é triste, angustiante e não acrescenta nada. Falta pode-se sentir de coisas, não de momentos ou pessoas.
Não acredito que exista alguém que sinta saudades do que foi ruim, não depois de reconhecer que é. Então, a minha saudade me mostra tudo de bom que eu vivo. É bom relembrar, rir várias vezes pelo mesmo motivo, contar de muitas formas a mesma história, ser feliz por inúmeros momentos com uma só causa de felicidade.  Saudadear a vida inteira, os anos que passaram e os que estão por vir. Saudade do agora para fazer ser especial.

Saudade é a prova incontestável da felicidade.