quinta-feira, 21 de julho de 2016

Dia do Amigo

Sempre gostei de datas sem muito gostar de dias: dia do/da alguma coisa. Gosto mais de aniversários, que é o dia da pessoa, exclusivamente dela. Ou de aniversários de alguma coisa. Mas esses dias genéricos nunca tiveram muito da minha atenção. No entanto, esse tal 'dia do amigo' traz coisas realmente legais, que me fizeram refletir um pouco e ter vontade de dividir isto. Como passei toda a vida até aqui sem ter certeza se o dito dia é comemorado em 20 ou 21, ficamos com a transição para falar dele.

O maior compêndio de amizade para mim traz por nome “O Pequeno Príncipe”. E confesso que fico um pouquinho desconfiada da capacidade de entender o amor quando a pessoa diz que leu esse livro sem ver nada demais… Mas procuro pensar que as pessoas grandes são assim mesmo e ter paciência com elas.

Mas a amizade…
Conheci esse livro por indicação de uma pessoa que pouco sabia de amizade ou de se importar com os outros, mas demorei um pouco para descobrir. E mesmo depois de muitas decepções, sempre pensei que recomendar este livro foi realmente grande demais para lembrar das coisas ruins. E esta foi uma lição:

É preciso que eu suporte duas ou três larvas de quiser conhecer as borboletas.
Nenhum amigo vai só nos agradar. Sempre haverá o momento de discórdia, o momento de decepção (sim, porque somos humanos e vamos errar, muito). Sempre haverá o esquecimento ou a falta de tato em alguma situação. E o que importa mais? Lamentar das larvas ou contemplar as borboletas? Não há perfeição entre nós para esperar isto de alguém, e o que não gostamos no outro é geralmente nosso reflexo. Por que, então, guardar a parte ruim das experiências? As pedras podem construir muros ou castelos. Eu prefiro castelos. Com borboletas.


Ainda assim, desta e de outras feitas, entendi como é triste o afastar-se de um amigo. Das relações, é provavelmente a que menos esperamos que isso aconteça. Mas não temos domínio sobre as atitudes alheias, nem o direito de julgá-las. O que temos, sempre, é a capacidade de transformar-nos, de aprender com os erros e também com os exemplos daqueles com quem convivemos. Então, guardei uma frase para nunca mais esquecer:






Assim, lembro que um sorriso hoje precisa ser um sorriso amanhã. Mesmo que muitas vezes seja difícil, é necessário tentar diariamente lutar contra o rancor e os maus sentimentos em relação a quem nos fere. Somos responsáveis, sim, por tudo que cativamos. E por quem cativamos. E nada deve ser motivo de lamento, mas de aprendizado e construção de laços mais maduros e amorosos.





Reconhecer-se como responsável pelo outro é um caminho para entender a amizade. E compreender que esta responsabilidade deve existir em todos os momentos, não só quando nos agrada. É uma construção lenta, um ajuste constante. Dá trabalho ser amigo, envolve tempo e cuidado. O contrário disso são outras relações: coleguismo, parceria, qualquer coisa mais superficial. Amizade é amor, é irmandade, é ouvir o silêncio e falar com o olhar. Por isso…


Foi o tempo que dedicaste a tua rosa que fez tua rosa tão importante
O tempo é o construtor de qualquer relacionamento. Há uma pesquisa que diz que amizades duram, em média, oito anos. É provável, portanto, que nossos amigos de agora não sejam até o fim de nossas existências. Então, que nossas rosas sejam muito bem cuidadas enquanto estão próximas. Talvez precisemos viajar por alguns planetas à procura de outros amigos, mas nem por isso nossa flor será esquecida e deixará de ser amada.


Neste pequeno relato, deixo como última reflexão o grande segredo que a raposa confiou ao Pequeno Príncipe, e que é o ensinamento que todo amigo tem a dar:




Só é possível amar vendo com o coração. Só o amor é capaz de enxergar o que o outro tem de melhor.
Sendo a amizade das mais belas expressões do amor, é com o coração que precisamos olhar para nossos amigos e compreendê-los.





Estas frases não estão na ordem desse incrível livro cheio de muitas outras reflexões, nem o resumem. Como eu, também, estou longe de conseguir realmente viver tudo isto. Mas a amizade é nosso campo de experimentação e ajuste. Precisamos nos deixar cativar uns pelos outros, conhecer e aprender com as muitas diferenças. Às vezes vai doer, muitas vezes…


Mas valerá a pena, sempre vale.
Pela cor do trigo.
Pelo abraço amigo.

sábado, 18 de junho de 2016

Quando a vida começa...


A vida começa aos 40, dizem alguns.
A vida começa aos 30, comemoram outros.
A vida começa aos 50, ainda insistem terceiros…

E eu ouço, um pouco perdida com tantas opiniões, tentando lembrar qual é o ditado certo. Pergunto ao Google que parece tão confuso quanto eu sobre quando começa, afinal, essa tal de vida.

Como a resposta não veio, o que vale é tentar construí-la. Relembro, então, uma das respostas-padrão do meu pai na minha infância, das que me irritavam bastante por sinal (curiosa e ansiosa que sempre fui):
- Pai, quando vai começar?
- É pra começar bem no começo.

Então eu, que fiz 30 há uma semana, fiquei aqui lembrando disso e querendo saber se a minha vida tinha ou não começado. Tudo isso porque é tão mais confortável se sentir adulta o suficiente para não se importar com algumas futilidades cotidianas ou se perceber mais paciente e ponderada, que realmente me questionei se era sobre isso que as pessoas estavam querendo falar quando inventaram estas frases. Cheguei a pensar: se está melhor agora, imagina aos 40!

O problema (ou a solução, não sei) é que sempre tive um gosto especial por fazer coisas atípicas, como escrever em agendas e cadernos (muito e sempre, desde 1999). E lembrei de uma destas frases perdidas em um momento adolescente. Ela justificava que eu estava escrevendo ali para que eu nunca esquecesse como eu estava me sentindo quando eu não me sentisse mais assim. Essa foi uma das melhores coisas que eu poderia ter feito para a minha eu do futuro. Estava treinando a minha empatia.

E quando começa a vida? Perguntei de novo. É justo com essa menina de 14 anos que eu fui um dia, que me ensinou a respeitar o sentimento que alguém tivesse por mais bobo que ele pudesse parecer, que eu simplesmente ignore o que foi vivido? Olharei para ela e direi: isso não era vida, criança, isso era ensaio. Não estava valendo ainda, agora é que começa de verdade, antes nem vou contar.

Isso parece mesmo muito condizente com o mundo, é como se as coisas só começassem quando é bom ou quando convém. As pessoas têm relacionamentos de anos e dizem que 'não deu certo' porque um dia acabou, fazem trocas de todo o tipo, de lugar, de coisas, de gente… o anterior é sempre ruim, insuficiente, falho. Por quê? 

Agora é que começa, dizem. Não, não posso concordar. Não vou queimar minhas páginas. Se o novo começo parece melhor, sejamos gratos a quem fomos até chegar nele. O que só nos satisfaz não é o que mais nos ensina.

Quando a vida começa? No começo.
Aprendi que as coisas começam no começo quando era criança e várias coisas insistiam em começar. Mas o Google acrescenta uma boa alternativa em sua busca. Na dúvida, comece todos os dias. 

sábado, 9 de abril de 2016

O sorriso de Juliana

Há quem não entenda parte nenhuma, alguma até eu questionei, mas essa história é sobre um sorriso que explica tudo.

Início de 2014 e minha brincadeira de lógica foi fazer vestibular na UFRGS. Quase dez anos passavam que havia tentado, mas resolvi fazer de novo, só como desafio. Sem estudar nada, os resultados não foram ruins. Resolvi estudar um pouco e tentar novamente em 2015, então para jornalismo, já que os boletos da Unisinos deixavam o diploma cada vez mais distante. 

Acontece que o ano sempre nos reserva algumas tarefas… E o meu trabalho principal, o que sustenta a minha alma, a evangelização, exigiu um pouco mais que o normal até então. Isso em nenhum momento pareceu ruim ou errado, mas está é a parte em que “há quem não entenda parte nenhuma”. Chega um momento em que as pessoas que não entendem não fazem mais comentários, apenas olham como se fosse impossível compreender e argumentar. Afinal de contas, como é que pode uma prioridade pessoal importante ficar em segundo plano? Essa parte eu entendia muito bem, e deixei passar… Eu estava estudando, sim, mais do que para uma prova, para o Espírito.

Assim o ano foi, sempre cheio, até nossas atividades diminuírem de fato. Faltava então um mês e eu não tinha estudado especificamente para isso. Esta foi a parte que eu questionei. Pois certamente que a falta de tempo tinha sido má administração minha, e agora, o que seria? Mais um ano não faria assim tanta diferença, mas por que todos os meus planos para o ano que se aproximava compartilhavam espaço para retornar aos estudos?

Contudo, é o sorriso que nos importa…
Dia 25 de dezembro, conheci a Juliana. Ela foi visitar a mesma casa que eu no dia do Natal. Provavelmente já a tivesse visto quando era menor, mas neste dia aconteceu o que é definido como cativar - criar laços. 
Ela chegou em um pequeno grupo de adultos, no qual eu me encontrava, com um jeitinho quieto e tímido de quem quer conversar. Só que adultos nem sempre são sensíveis como as crianças em certos casos. Vendo que a Juliana não parecia ter um rumo muito alegre em compreender as conversas dos mais velhos, sobre problemas da vida, ela sutilmente tentando mudar o assunto sem ser percebida - e talvez sem perceber, pensei em qualquer assunto que pudesse ter com ela e arrisquei. Ela retornou e conversou, conversamos muito. Mais do que isso, ela compreendeu perfeitamente a minha intenção, e parecia muito mais segura que eu. Ela transformou a minha desajeitada tentativa e um momento de troca de afeto entre corações. Ela sorria, e o mundo ficava melhor. 
Ela sorria e eu quase chorava de alegria.
Ela sorria enquanto eu passava a perceber tantas coisas.
Ela sorria pra mim no dia que simboliza o nascimento de Jesus. Poderia ter passado um ano estudando pelo meu objetivo, escolhi os sorrisos. Escolhi o sorriso da Juliana antes de conhecê-la, vi sorrisos um ano inteiro para compreender o dela. Vivi até ali para provocar um sorriso que explicava tudo. 
Quando estava indo embora, perguntei brincando se ela gostaria de ir junto. Ela deu um abraço porque palavras nunca definem esses sentimentos. Ela veio junto comigo sem saber. E eu notei ali que ensaiei durante os sábados de um ano todo para conhecê-la, para que fosse capaz de entender. 
Neste dia Juliana me contou que estava aprendendo a ler, e acreditava que no próximo Natal já saberia. Combinamos de conferir isto no prazo de um ano. E ali, decidi que o sonho tinha sido muito bem orientado. Porque a Juliana precisa de pessoas que escrevam coisas boas para que ela leia. E sendo esse meu objetivo, estudei o que precisava mais para atingi-lo. 

Não fossem todas as escolhas assim, talvez este sorriso não me falasse tanto naquele momento de dúvida. Talvez não tivesse retomado a reflexão sobre os deveres profissionais que tinha em mente. Talvez não tivesse compreendido que mais do que fórmulas, eu precisava de um sorriso para começar esta jornada.


(Texto de março de 2015, logo após o ingresso em Jornalismo na UFRGS. Blog reativado e texto publicado, pois não queria deixar de dividi-lo, mesmo que com atraso.)

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Fotografia

Tem uma foto que me dói. Ela não foi revelada; não foi impressa; nem publicada. Não foi levada ao conhecimento do público nem escondida na gaveta. Ela está oculta, está presa na frente da objetiva que nunca se abriu para fazê-la. Seria uma bela foto, mas ficou ali sem existir, escondida atrás de uma muralha de sentimentos confusos que ofuscaram a câmera.
Um momento que não se permitiu registro.

Não há provas, é apenas um relato que qualquer dia pode passar desapercebido na memória e virar mais um ato cotidiano esquecido. Com tantas imagens na volta, quem irá querer guardar uma que nem existiu? Pode ter sido apenas imaginação - nada mais.

Até tem sua lógica, mas mesmo sem chegar a ser ela de alguma forma ficou gravada. Ela existe na memória das testemunhas, precisa permanecer aí, ou simplesmente se desmanchará no tempo. Manterei a minha parte, porque não é a foto que me dói, mas cogitar a inexistência dela.






23/08/2013

sábado, 11 de janeiro de 2014

Escolhas

Gosto de joguinhos desses que se joga quando se tem tempo ou quando não se quer ocupar o tempo com outra coisa. E gosto de observar em tudo algum sentido paralelo para o que realmente faz sentido.

Hoje gostei de me ver largar o jeito metódico de fazer uma coisa inútil como se tivesse que dar certo. O que sobraria para a vida, então? Joguei por jogar, sem me preocupar com os resultados. Como me pareceu ter o dobro de chances, nunca durou tanto! Simplesmente me diverti por uns minutinhos de ócio.
Talvez isso falte, viver por viver, não sem sentido, mas de forma menos metódica. Interessar-se mais pelos quês e menos pelos porquês - estes só vêm no tempo certo.

Assim, deixar de lado a sina - quiçá transformá-la em rima;
esperar o tempo acontecer:
permito-me crescer.
Ser-sentir; aceitar é seguir.
Escolhi o frio porque tenho certeza que o sol existe.
Escolhi felicidade porque não sei ser triste.
E porque sei que não há noite que sobreviva ao dia, 
nem amor que não seja poesia.