sábado, 9 de abril de 2016

O sorriso de Juliana

Há quem não entenda parte nenhuma, alguma até eu questionei, mas essa história é sobre um sorriso que explica tudo.

Início de 2014 e minha brincadeira de lógica foi fazer vestibular na UFRGS. Quase dez anos passavam que havia tentado, mas resolvi fazer de novo, só como desafio. Sem estudar nada, os resultados não foram ruins. Resolvi estudar um pouco e tentar novamente em 2015, então para jornalismo, já que os boletos da Unisinos deixavam o diploma cada vez mais distante. 

Acontece que o ano sempre nos reserva algumas tarefas… E o meu trabalho principal, o que sustenta a minha alma, a evangelização, exigiu um pouco mais que o normal até então. Isso em nenhum momento pareceu ruim ou errado, mas está é a parte em que “há quem não entenda parte nenhuma”. Chega um momento em que as pessoas que não entendem não fazem mais comentários, apenas olham como se fosse impossível compreender e argumentar. Afinal de contas, como é que pode uma prioridade pessoal importante ficar em segundo plano? Essa parte eu entendia muito bem, e deixei passar… Eu estava estudando, sim, mais do que para uma prova, para o Espírito.

Assim o ano foi, sempre cheio, até nossas atividades diminuírem de fato. Faltava então um mês e eu não tinha estudado especificamente para isso. Esta foi a parte que eu questionei. Pois certamente que a falta de tempo tinha sido má administração minha, e agora, o que seria? Mais um ano não faria assim tanta diferença, mas por que todos os meus planos para o ano que se aproximava compartilhavam espaço para retornar aos estudos?

Contudo, é o sorriso que nos importa…
Dia 25 de dezembro, conheci a Juliana. Ela foi visitar a mesma casa que eu no dia do Natal. Provavelmente já a tivesse visto quando era menor, mas neste dia aconteceu o que é definido como cativar - criar laços. 
Ela chegou em um pequeno grupo de adultos, no qual eu me encontrava, com um jeitinho quieto e tímido de quem quer conversar. Só que adultos nem sempre são sensíveis como as crianças em certos casos. Vendo que a Juliana não parecia ter um rumo muito alegre em compreender as conversas dos mais velhos, sobre problemas da vida, ela sutilmente tentando mudar o assunto sem ser percebida - e talvez sem perceber, pensei em qualquer assunto que pudesse ter com ela e arrisquei. Ela retornou e conversou, conversamos muito. Mais do que isso, ela compreendeu perfeitamente a minha intenção, e parecia muito mais segura que eu. Ela transformou a minha desajeitada tentativa e um momento de troca de afeto entre corações. Ela sorria, e o mundo ficava melhor. 
Ela sorria e eu quase chorava de alegria.
Ela sorria enquanto eu passava a perceber tantas coisas.
Ela sorria pra mim no dia que simboliza o nascimento de Jesus. Poderia ter passado um ano estudando pelo meu objetivo, escolhi os sorrisos. Escolhi o sorriso da Juliana antes de conhecê-la, vi sorrisos um ano inteiro para compreender o dela. Vivi até ali para provocar um sorriso que explicava tudo. 
Quando estava indo embora, perguntei brincando se ela gostaria de ir junto. Ela deu um abraço porque palavras nunca definem esses sentimentos. Ela veio junto comigo sem saber. E eu notei ali que ensaiei durante os sábados de um ano todo para conhecê-la, para que fosse capaz de entender. 
Neste dia Juliana me contou que estava aprendendo a ler, e acreditava que no próximo Natal já saberia. Combinamos de conferir isto no prazo de um ano. E ali, decidi que o sonho tinha sido muito bem orientado. Porque a Juliana precisa de pessoas que escrevam coisas boas para que ela leia. E sendo esse meu objetivo, estudei o que precisava mais para atingi-lo. 

Não fossem todas as escolhas assim, talvez este sorriso não me falasse tanto naquele momento de dúvida. Talvez não tivesse retomado a reflexão sobre os deveres profissionais que tinha em mente. Talvez não tivesse compreendido que mais do que fórmulas, eu precisava de um sorriso para começar esta jornada.


(Texto de março de 2015, logo após o ingresso em Jornalismo na UFRGS. Blog reativado e texto publicado, pois não queria deixar de dividi-lo, mesmo que com atraso.)