quarta-feira, 29 de maio de 2013

Rosa



Hoje choveu muito e ainda chove. Mas há pouco mais de uma hora a chuva era tempestade. Com a queda na energia elétrica, o céu escuro da rua ainda era mais claro que dentro de casa. Então resolvi olhar a chuva, pois sempre teve algo que me encantou em tempestades.

Na frente de casa observei no alto da roseira uma flor solitária. Em outros galhos alguns botões ainda fechados estavam melhor protegidos; aquela rosa estava desabrochada e vulnerável. Outras duas que a antecederam poucos dias foram colhidas e decoravam a casa; estavam protegidas e seguras da instabilidade do tempo. Porém, era aquela que detinha a maior beleza. Ela conheceu o sol, com ele desabrochou e destacava-se no alto do galho. Agora, enfrentou uma tempestade muito forte. Poderia parafrasear Saint-Exupéry dizendo que ela tinha apenas os espinhos para se defender, mas estaria sendo exagerada. Ela não tem os espinhos que a maioria das rosas tem; há poucos e pequenos, que nem chegam a machucar. Como compensação, tem pétalas maiores e mais fortes, que não se deixam cair por pouco.

Enquanto eu refletia a ventania levava a rosa de um lado para o outro. E ela parecia ostentar certa alegria. Sua beleza aumentava com as gotas de chuva, que só não eram tão agressivas porque ela teve a humildade de não se lançar ao jardim, ficou abaixo da marquise que a protegia. Ela previa que do outro lado da casa, o horizonte já estava mais claro.

 

PAI,

Ajuda-me a ser como a rosa, que sabe que as tempestades duram tempo suficiente para limpar e fortalecer, nada mais que isso. Que eu possa ter a certeza de que são poucos os pingos que me atingem e que nenhum mal podem me causar se eu me mantiver sob a tua proteção.

Quero sempre desejar ser a rosa que ficou na rua, que está vivendo na instabilidade do tempo, aprendendo a confiar. Quero, como ela, ter a certeza do horizonte claro que virá e secará tudo que ficou, fazendo brotar novas sementes de luz. Quero poder me manter com o mínimo possível de espinhos, para ser forte sem ferir quem se aproximar. Mesmo que as intenções não sejam boas, que as atitudes busquem me atingir, auxilia-me para que as minhas intenções e sentimentos sejam bons e fortes como as pétalas e meus defeitos e insatisfação sejam cada vez menores, como os espinhos.

E obrigada pela rosa, por me permitir enxergá-la e aprender com ela.